Expansão urbana em APAs estaduais: contradições entre os interesses locais e regionais

Autores

  • Décio Luiz Pinheiro Pradella Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Escola de Arquitetura, Artes e Design, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9394-3205
  • Laura Machado de Mello Bueno Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Escola de Arquitetura, Artes e Design, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0001-7212-6313

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202439

Palavras-chave:

Serra do Japi (SP), Área de Proteção Ambiental, Área Natural Tombada, Planejamento Urbano e Regional, Proteção de Bens Naturais em Área Metropolitana

Resumo

A institucionalização do planejamento territorial municipal tem forte influência nos processos de aumento do preço da terra, que se torna passível de urbanização por meio da mudança de classificação de rural para urbana de acordo com as leis urbanísticas municipais. A proteção de bens naturais, em especial em áreas metropolitanas, tem sido dificultada pela intensificação dos processos de ampliação territorial de áreas legalmente urbanizáveis. A Serra do Japi, estudo de caso deste artigo em conjunto com áreas do entorno, abrangendo nove municípios, situa-se na Macrometrópole Paulista, no centro da Região Metropolitana de Jundiaí e entre as Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba. Reconhecendo sua importância ambiental e paisagística, e visando à proteção de seu maciço florestado e de suas águas, o Governo do Estado de São Paulo criou as APAs (Áreas de Proteção Ambiental) estaduais Jundiaí, Cabreúva e Cajamar, no ano de 1984, abrangendo o maciço e áreas de seu entorno. Além das APAs, o sistema de proteção da Serra do Japi conta com outros instrumentos. Apesar do arcabouço legal de proteção em vigor, há forte pressão sobre seu maciço florestado e em seu entorno em função de sua localização. A área do entorno desse maciço florestado foi objeto de interesse na pesquisa de doutorado que resultou neste artigo, em face da pressão dos processos de urbanização e da probabilidade de transformação da paisagem nessa região. São áreas de fragilidade ambiental, que contam com a presença de ecossistemas relacionados à Serra, a exemplo dos cursos d’água, importantes mananciais de abastecimento público de interesse local e regional. A pesquisa que originou este artigo teve por base a análise da legislação ambiental estadual, da legislação urbanística e dos planos de saneamento dos nove municípios onde se encontra localizado o maciço florestado em questão. Essa base legal foi confrontada com o mapeamento do uso e ocupação do solo atuais. Em um primeiro momento, buscou-se conhecer a legislação urbanística vigente nesses municípios, para mapear a expectativa de ocupação na área de entorno do maciço florestado e do território abrangido pelas bacias hidrográficas de cursos d’água que nascem na Serra do Japi, a fim de identificar como as diretrizes preconizadas pela legislação ambiental estadual se refletem no território e se elas são incorporadas, ou não, pelas leis urbanísticas municipais. Em um segundo momento, foram propostas algumas adequações para o aprimoramento da legislação estadual, para permitir maior controle dos processos de expansão urbana e do aumento populacional pelo órgão gestor da Unidade de Conservação Estadual.

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Biografia do Autor

Décio Luiz Pinheiro Pradella, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Escola de Arquitetura, Artes e Design, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP, Brasil

Professor no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Francisco (USF), campus Bragança Paulista, Campinas e Itatiba, e gestor técnico da Fundação Clara de Assis (Funclar), conveniada à USF. Coordenador do mesmo curso nessa instituição durante os anos de 2019 e 2020. Graduado em Arquitetura e Urbanismo (1998) pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), especialista em Desenho e Gestão do Território Municipal (2003), mestre em Urbanismo (2018) e doutor em Arquitetura e Urbanismo (2023) no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma instituição (Posurb-arq). Tem experiência na área da Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em gestão pública municipal, atuando principalmente nas áreas de Planejamento e Gestão do Território, Projeto de Arquitetura, Controle Urbano, Meio Ambiente, Habitação de Interesse Social e Regularização Fundiária, Projetos Urbanos e Planejamento Urbano e Regional. Atua como consultor em planejamento e controle urbano.

Laura Machado de Mello Bueno, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Escola de Arquitetura, Artes e Design, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP, Brasil

Professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) no Programa de Pós-graduação em Urbanismo e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Bolsista Produtividade 2 do CNPq. Coordenou o Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (Posurb-arq) – nota 5 na avaliação Capes – até janeiro de 2022. Graduada (1976), com mestrado (1994) e doutorado (2000) pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Líder do grupo de Pesquisa Políticas Territoriais e Água no Meio Urbano. Coordena, pela PUC-Campinas, o Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Univag no Mato Grosso. Participa dos movimentos BrCidades e Marcha Mundial das Mulheres. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Meio Ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: habitação, urbanismo social, água, rios urbanos, bacia hidrográfica, favela, gestão urbana e urbanismo, em pesquisas e consultoria para elaboração de planos e projetos. A pesquisa atual, com o título “Meio ambiente urbano e saúde: dengue, covid-19, extremos climáticos e outras negligências”, tem apoio da PUC-Campinas e do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq).

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Publicado

01-12-2024

Como Citar

Pradella, D. L. P., & Bueno, L. M. de M. (2024). Expansão urbana em APAs estaduais: contradições entre os interesses locais e regionais. Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 26(1). https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202439

Edição

Seção

Artigos - Ambiente, Gestão e Desenvolvimento