Afetos, escrevivências musicais e reposicionamento de imaginário: Sou periferia! Sou periferia!
DOI:
https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202538Palavras-chave:
Imagens e Representações da Cidade, Espaço Urbano, Diferenciação Étnico-Racial, Periferia, Afetos, Escrevivências Musicais, SalvadorResumo
O centro e a periferia apresentam diferenças a nível de imaginário. O primeiro é constituído pela ideia de superioridade, beleza, prestígio e ordem, enquanto a segunda é vista de forma contrária, correspondendo a inferioridade, periculosidade, desordem, fealdade etc. Esta ideia encontra-se consubstanciada na esfera dos afetos, contribuindo para que o centro seja alvo de afeição enquanto a periferia de aversão. Textos de canções têm sido um aliado histórico para o reposicionamento de imaginário sobre as periferias, apontando e difundindo potencialidades. Em realidade, são verdadeiras “escrevivências”, termo cunhado por Conceição Evaristo para denominar textos que somam escrita e vivência periférica. Assim, este artigo propõe uma reflexão sobre as periferias soteropolitanas a partir de uma interpretação afetiva de escrevivências musicais, na qual percebe-se compositores negros periféricos que criam discursos próprios para afrontar o centro e lutam por um imaginário respaldado por afetos que refletem respeito e admiração.
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