Afetos, escrevivências musicais e reposicionamento de imaginário: Sou periferia! Sou periferia!

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202538

Palavras-chave:

Imagens e Representações da Cidade, Espaço Urbano, Diferenciação Étnico-Racial, Periferia, Afetos, Escrevivências Musicais, Salvador

Resumo

O centro e a periferia apresentam diferenças a nível de imaginário. O primeiro é constituído pela ideia de superioridade, beleza, prestígio e ordem, enquanto a segunda é vista de forma contrária, correspondendo a inferioridade, periculosidade, desordem, fealdade etc. Esta ideia encontra-se consubstanciada na esfera dos afetos, contribuindo para que o centro seja alvo de afeição enquanto a periferia de aversão. Textos de canções têm sido um aliado histórico para o reposicionamento de imaginário sobre as periferias, apontando e difundindo potencialidades. Em realidade, são verdadeiras “escrevivências”, termo cunhado por Conceição Evaristo para denominar textos que somam escrita e vivência periférica. Assim, este artigo propõe uma reflexão sobre as periferias soteropolitanas a partir de uma interpretação afetiva de escrevivências musicais, na qual percebe-se compositores negros periféricos que criam discursos próprios para afrontar o centro e lutam por um imaginário respaldado por afetos que refletem respeito e admiração.

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Biografia do Autor

John Max Santos Sales, Universidade Estadual do Tocantins, Colegiado de Serviço Social, Palmas, TO, Brasil

Professor assistente da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). Possui graduação bacharelado em Ciências Econômicas (2010) pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), graduação tecnológica em Saneamento Ambiental (2010) pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS), mestrado em Planejamento Urbano e Regional (2013) pelo Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutorado em Planejamento Urbano e Regional (2024) pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Publicado

20-05-2025

Como Citar

Sales, J. M. S. (2025). Afetos, escrevivências musicais e reposicionamento de imaginário: Sou periferia! Sou periferia! . Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 27(1). https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202538

Edição

Seção

Dossiê: A ‘poli-periferia’ e o ‘giro periférico’ nos estudos urbanos

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