Interseccionalidade em uma zona de sacrifício do capital: a experiência de mulheres negras, quilombolas e marisqueiras da Ilha de Maré, baía de Todos os Santos (Bahia, Brasil)

Autores

  • Patricia Rodin Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0003-4044-8144

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202133pt

Palavras-chave:

Interseccionalidade, Gênero, Marisqueiras, Conflito ambiental, Cadeia petrolífera, Racismo, Ilha de Maré

Resumo

Este artigo se baseia em uma pesquisa empírica cujo objetivo é analisar, a partir de uma perspectiva interseccional, como as mulheres negras, quilombolas e marisqueiras de duas comunidades da Ilha de Maré (Baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia) são afetadas pela ocupação de seu território pela cadeia petrolífera. A compreensão da complexidade da experiência que essas mulheres vivenciam em seu território de vida, no atual contexto de conflito ambiental, só pode ser alcançada considerando a intersecção dos marcadores de raça, gênero, classe e o que aqui denominamos de modo de vida ligado ao meio ambiente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Patricia Rodin, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Bióloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestra em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutoranda em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). É, desde 2009, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Coordenação de licenciamento ambiental de petróleo e gás offshore, tendo como foco de sua atuação a avaliação, a compensação e a mitigação dos impactos da produção de petróleo e gás sobre comunidades em situação de vulnerabilidade, principalmente, comunidades de pesca artesanal.

Referências

ACSELRAD, H. As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. In: ACSELRAD, H. (Org.). Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004. p. 13-35.

ALENCAR, E. Gênero e trabalho nas sociedades pesqueiras. In: FURTADO, L. G.; LEITÃO, W.; FIÚZA, A. M. de (Orgs.). Povos das águas: realidades e perspectivas na Amazônia. Belém: MPEG, 1993, p. 63-81.

ALONSO POBLACIÓN, E.; NIEHOF, A. On the power of a spatial metaphor: Is female to land as male is to sea? Maritime Studies, v. 18, n. 3, 2019, p. 249-257.

ASSASSINO INVISÍVEL: lixo industrial na Ilha de Maré chega a níveis mortais. Mídia Ninja, 31 de março de 2019. Reportagem e vídeo (5:50 min.) Disponível em: https://midianinja.org/news/ /assassino-invisivel-lixo-industrial-na-ilha-de-mare-chega-a-niveis-mortais/. Acesso em: 12 set. 2020.

BAIRROS, L. Nossos Feminismos Revisitados. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, ano 3, n. 2, 1995, p. 458-463.

BARCELLOS, G. H. Desterritorialização e R-existência Tupiniquim: mulheres indígenas e o complexo agroindustrial da Aracruz celulose. 2008. 424 f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

BARICKMAN, B. J. Até a véspera: O trabalho escravo e a produção de açúcar nos engenhos do Recôncavo baiano (1850-1881). Afro-Ásia, n. 21-22, 1998-1999, p. 177-238.

BIROLI, F. Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. 1 ed. São Paulo: Boitempo. 2018.

BUTI, R. P. Imagens do Petroceno: habitabilidade e resistência quilombola nas infraestruturas do petróleo em manguezais do Recôncavo baiano. Amazônica – Revista de Antropologia. v. 12, n. 1, 2020, p. 277-301.

COLLINS, P. H. Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and the Politics of Empowerment. 2 edition. New York: Routledge. 2000.

COMISSÃO PASTORAL DA PESCA. Relatório Conflitos Socioambientais e Violações de Direitos Humanos em Comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasil. 2016.

CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos Feministas. Florianópolis, v. 10, n. 1, jan., 2002. p. 171-188.

ELMHIRST, R. Feminist Politic Ecology. In: PERREAULT, T.; BRIDGE, G.; MC CARTHY, J. (edits). Handbook of Political Ecology. New York: The Routledge, p. 519-540, 2015.

ELMHIRST, R. Ecologias políticas feministas: perspectivas situadas y abordajes emergentes. Ecologia Política. Cuadernos de debate internacional. Edição Especial Ecofeminismos e Ecologias Políticas y Ecologias Políticas Feministas. n. 54, 2018, p. 52-59.

FAUSTINO, D. M. A equidade racial nas políticas de saúde. In: BATISTA, L. E.; WERNECK, J.; LOPES, F. (orgs.). Saúde da População Negra. 2. ed. Brasília, DF: ABPN, 2012. p. 92-121.

FAUSTINO, D.M.; FURTADO, F. Indústria do petróleo e conflitos ambientais na Baía de Guanabara: o caso do Comperj. Rio de Janeiro: Plataforma Dhesca, 2013a.

FAUSTINO, D.M.; FURTADO, F. Mineração e violações de direitos: o projeto Ferro Carajás S11D, da Vale S.A. Açailândia: Plataforma Dhesca, 2013b.

FRAGA FILHO, W. Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1870-1910). 2004. Tese (Doutorado em História). Campinas/SP: UNICAMP, 2004.

FURTADO, F. Nem nossos corpos, nem nossos territórios: mulheres, desenvolvimento e conflitos ambientais. GT 06 Conflitos e Desastres ambientais: violação de direitos, resistência e produção do conhecimento. 42º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 2018. 28f.

GARCIA, P. B.; CUEVAS, A. S. Una ecología política feminista en construcción: El caso de las "Mujeres de zonas de sacrificio en resistencia", Región de Valparaíso, Chile. Psicoperspectivas, v. 16, n. 2, 2017, p. 33-42.

GONZALES, L. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, ANPOCS, 1984, p. 223 -244.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br. Acesso em: 01 jun. 2020.

INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Superintendência Regional da Bahia. Relatório Técnico de Identificação e Delimitação da comunidade Quilombola de Ilha de Maré. Salvador, Bahia, 2016.

INESC. Instituto de Estudos Socioeconômicos. Mulheres Amazônidas: a defesa dos territórios em tempos de crise. Brasília, 2020.

PACS. Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul. Mulheres e conflitos ambientais: nem nossos corpos nem nossos territórios- da invisibilidade à resistência. Rio de Janeiro: PACS, 2017.

HATJE, V. et al. Contaminação Química In: HATJE, V., ANDRADE, J. (orgs.). Baía de Todos os Santos: Aspectos oceanográficos. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 243- 297.

JESUS, V. de. Racializando o olhar (sociológico) sobre a saúde ambiental em saneamento da população negra: um continuum colonial chamado racismo ambiental. Saúde e Sociedade, São Paulo. v. 29, n. 2, 2020, e180519.

LESSA, G. C. et al. Oceanografia Física. In: HATJE, V., ANDRADE, J. (orgs.). Baía de Todos os Santos: Aspectos oceanográficos. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 71-119.

MAB. Movimento dos Atingidos por Barragens. O modelo energético e a violação dos direitos humanos na vida das mulheres atingidas por barragens. 34p. 2011.

MAIA, S. Neoliberalismo global, capitalismo racial e organização política de mulheres numa comunidade pesqueira quilombola do Recôncavo da Bahia. Latin American Research Review, v. 56, n. 2, 2021, p. 1-14. doi: 10.25222/larr.628.

MANESCHY, M. C.; SIQUEIRA, D.; ÁLVARES, M. L. M. Pescadoras: subordinação de gênero e empoderamento. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 3, 2012, p. 713-737.

MBEMBE, A. Necropolítica. Artes; Ensaios. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais EBA/UFRJ. n. 32, 2016, p.121-153.

MELLO, C. C. A. As vítimas dos desastres ambientais no Brasil têm cor e ela não é branca. [online] 2015. 2p. Disponível em: https://plataformapoliticasocial.com.br/as-vitimas-dos-desastres-ambientais-no-brasil-tem-cor-e-ela-nao-e-branca/. Acesso em: 12 set. 2020.

MELLO-DA-SILVA, C. A.; FRUCHTENGARTEN, L. Riscos químicos ambientais à saúde da criança. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro. n. 81 (5 Supl), 2005, p. S205-S211.

MOLLET, S.; FARIA, C. Messing with gender in feminist political ecology. Geoforum, n. 45, 2013, p. 116-125.

OBTEIA. Observatório de Políticas Pública Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas. Análise de Contexto, Ilha de Maré, Salvador (BA). 2014. 23p.

OYARZÚN, E. A.; ALVAREZ, A. Z. Apuntes iniciales para la construcción de una Ecología Política Feminista de y desde Latinoamérica. Polis, Revista Latinoamericana, n. 54, 2019, p. 12-26.

PENA, P. G. L.; MARTINS, V. L. A. Introdução. In: PENA, P. G. L.; MARTINS, V. L. A. (orgs.). Sofrimento Negligenciado: doenças do trabalho em marisqueiras e pescadores artesanais. Salvador: EDUFBA, 2014. p. 17-27.

PoEMAS. Antes fosse mais leve a carga: avaliação dos aspectos econômicos, políticos e sociais do desastre da Samarco/Vale/BHP em Mariana (MG). Relatório. Belo Horizonte, Dezembro de 2015. 100p.

RIOS, K. A. N. A questão da luta na/pela terra e água dos pescadores artesanais: Desafios e perspectivas do processo de regularização dos territórios pesqueiros de Ilha de Maré (BA) 2017. Tese (Doutorado em Geografia). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2017.

SAFFIOTI, H. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 3. ed., 2013, 528p.

SOUZA, S. R.; RIBEIRO, N. S.; MARTINEZ, S. A. In: MARTINEZ, S. A.; HELLEBRANT, L. (orgs.). Mulheres na atividade pesqueira no Brasil. Campo dos Goytacazes: EDUENF, 2019, p. 23-52.

SVAMPA, M. As fronteiras do neoextrativismo na América Latina: Conflitos socioambientais, giro ecoterritorial e novas dependências. São Paulo: Editora Elefante, 2019, 192p.

WALTER, T. et al. Conflitos ambientais envolvendo pescadores (as) artesanais na zona costeira. In: MARTINEZ, S. A.; HELLEBRANT, L. (orgs.). Mulheres na atividade pesqueira no Brasil. Campo dos Goytacazes: EDUENF, 2019. p. 77-112.

WERNECK, J. Racismo institucional e saúde da população negra. Saúde e Sociedade, São Paulo. v. 25, n. 3, 2016, p. 535-549.

ZAGATTO, B.P.; SOUZA, L.E.V. A necropolítica ambiental nos quilombos de Ilha de Maré, Bahia, Brasil. Amazônica - Revista de Antropologia. v. 12, n. 1, 2020, p. 253-276.

Publicado

04-11-2021

Como Citar

Rodin, P. (2021). Interseccionalidade em uma zona de sacrifício do capital: a experiência de mulheres negras, quilombolas e marisqueiras da Ilha de Maré, baía de Todos os Santos (Bahia, Brasil) . Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 23. https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202133pt

Edição

Seção

Artigos - Ambiente, Gestão e Desenvolvimento